Um ano de vendas de ebooks
Há cerca de um ano, decidi pegar nos meus livros e republicá-los sob a forma de ebooks, devidamente adaptados aos novos dispositivos de leitura, como o iPad, o iPhone, o Kindle ou o Kobo. Por acreditar que o futuro dos livros passa realmente pela migração para o suporte digital, este projeto já não incluiu a tradicional publicação em papel, mas somente a edição digital dos referidos livros. Decorrido um ano, é chegada a altura de fazer um pequeno balanço do caminho percorrido…
A primeira grande curiosidade que eu tinha, no início, era qual dos meus livros teria mais procura. Ao fim de um ano, o balanço de vendas (que não inclui nenhum dos livros oferecidos gratuitamente no Natal ou noutras campanhas) permite-nos observar a seguinte proporção:
 É fácil perceber que estes três livros de narrativa têm cativado muito mais leitores do que a minha única obra de poesia publicada até ao momento. Algo que não é particularmente surpreendente, já que mesmo no mercado tradicional dos livros em papel, a poesia sempre tem sido uma espécie parente pobre, em termos de vendas. Como não esperava fazer fortuna e me interessa muito mais que os meus poemas sejam lidos por quem goste de poesia, decidi há dias tornar definitivamente grátis o livro É preciso calar o monólogo.
Entretanto, a observação da evolução nas vendas tem sido uma constante aprendizagem. Por exemplo, no que se refere à importância do título e da capa para o sucesso de um livro. As Confissões de Dulce é o meu livro mais vendido deste ano, e se havia algo que o distinguia dos restantes era a capa e, talvez, o título. Já o Manual de Trigonometria Aplicada, um livro porventura até mais trabalhado em termos literários, tem sofrido em termos de vendas por se apresentar com uma capa menos apelativa e um título ambíguo e, quiçá, assustador. Se fosse hoje, decididamente, daria outro título a esse livro – e talvez venha mesmo a atualizá-lo, quem sabe…
A outra grande curiosidade que eu tinha era sobre qual a plataforma onde as vendas de ebooks seriam mais significativas. Confesso que tinha uma grande expectativa relativamente à Kindle store, que acabou por sair frustrada, como se pode avaliar pelo gráfico abaixo, que retrata a distribuição de vendas por plataforma durante estes 12 meses. 
Para contextualizar, convém lembrar que o mercado de ebooks ainda está a começar em Portugal, no Brasil e em muitos outros países. A iBookstore abriu em Portugal em finais de setembro de 2011, tornando-se assim a Apple o primeiro gigante mundial da área dos ebooks a iniciar operações no mercado português. Já no Brasil, a sua atividade começou apenas em outubro deste ano. Mais recentemente, há cerca de um mês, a Kobo começou a distribuir os seus dispositivos em Portugal, através da Fnac, estando neste momento a ser feita também a sua introdução no Brasil, através da Livraria Cultura. Há também algumas lojas de âmbito nacional, como a Wook (Portugal) ou a Saraiva (Brasil) que vendem ebooks on-line, sem contudo os promoverem no contexto de um e-reader próprio. Não conheço os números, mas tudo parece indicar que a quota de mercado da iBookstore e dos seus concorrentes internacionais deverá ser substancialmente superior.
A grande ausência, tanto em Portugal como no Brasil, continua a ser, de forma notória, a Kindle Store, da Amazon. Não deixa de ser um tanto ou quanto surpreendente que, apesar de a Kindle Store americana vender ebooks para clientes portugueses e brasileiros, tenha sido a canadiana Kobo a trazer em primeiro lugar os leitores com ecrã e-ink. Os livros da Kindle Store, é certo, podem ser lidos noutros dispositivos, como é o caso do iPad e do iPhone, ou até mesmo através de uma web app na Internet. Mas a verdade é que, pelo menos em Portugal, grande parte dos títulos têm o seu preço inflacionado relativamente a outros países e relativamente às lojas concorrentes. Tomemos o exemplo do meu Manual de Trigonometria Aplicada: os preços para este livro foram definidos globalmente em 1.89 dólares, para todas as lojas, incluindo Smashwords, iBookstore, Kindle, Kobo, etc. Em Portugal, temos neste momento esse livro ao preço de 1,99 € na iBookstore e 1,78 € na loja Kobo. Mas se pretendermos comprá-lo pela Kindle store americana (que é a divisão que atualmente serve Portugal), deparamo-nos com uns surpreendentes 4,47 dólares (aproximadamente 3,46€). Já em países como Espanha, onde a Amazon já disponibiliza uma Kindle store local, é possível adquirir este mesmo livro por apenas 1,53 €.
O ano 2013 vai ser decisivo. Se por um lado, continuamos com a famosa mas não formosa Crise a espreitar a cada momento, temos por outro lado pela primeira vez à venda no mercado uma variedade interessante de dispositivos de leitura de ebooks e duas das maiores lojas internacionais de ebooks a operar no mercado português e no mercado brasileiro. Será que essa concorrência irá trazer frutos, em termos da divulgação do livro digital nesses dois territórios? Espero que sim, e que isso se traduza num proporcional aumento de leitores e de leituras.
A finalizar, resta apenas dizer que a experiência tem valido sobretudo pela aprendizagem e pela oportunidade de partilhar e contactar com alguns leitores e com outros autores. Apesar de algumas simpáticas incursões pelos tops de vendas nacionais, ainda não fiquei extremamente rico. Ou melhor, ainda não fiquei coisíssima nenhuma. Os trocos que amealhei até ao momento com a venda dos livros serviram para me pagar as poucas despesas deste projeto e talvez um ou dois cafés. Obviamente, estou profundamente grato a todos os que têm comprado os meus livros. E mais grato ainda aos que, para além de os comprar, tiveram também a coragem de os ler do início ao fim.
E agora, é hora de olhar em frente. Na calha, tenho dois livros em estado embrionário. Vamos ver o que sai dali…