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Adeus a um amigo


Nota: ler somente depois de escutar,
a modos de prelúdio musical,
a faixa “Dia dor-mente”

e de repente parece que tanto ficou por dizer, tantas coisas ficaram por fazer, para nunca mais. parece hipócrita, e talvez até seja… na cidade somos tantos tantos tantos e temos sempre tanto tanto tanto por fazer e nem sequer nos apercebemos de como todos os dias a todo o momento deixamos a vida escapar-nos por entre os dedos e com ela por entre eles todos os sonhos por que afinal valia a pena lutar. porque é isso que tu eras – os sonhos. porque é isso que serás a partir de agora para todos nós que te vimos partir: os sonhos.

e como é agora? como fazemos para a partir do caos, do absurdo, arquitetar e erigir uma nova matriz de significados toda ela tão lógica toda ela tão segura e tão aconchegante como aquela que num instante se desmoronou?

tu sabias que tudo continuaria igual, sem ti. sempre continua o mundo sem nós, não é?

e no entanto aqui estamos nós todos numa encruzilhada retilínea, absortos até ao nono andar da nossa incredulidade, ignorantes das teias que o acaso tece e sem saber se ainda há sonhos possíveis e se acaso houver aonde os poderemos ir buscar. como é poderosa a gravidade na sua luta com a nossa inércia!

o que nos custa é não saber onde vais e porque vais agora e não ficas simplesmente aqui. e por isso de repente parece que tanto ficou por dizer porque realmente nunca to dissemos e era importante tê-lo dito ainda que isso pudesse porventura ter sido até irrelevante no fim de tudo. não sabemos. nunca o saberemos.

mas vai. e que não fique mágoa de chorar a tua partida, mais do que a hora pede por direito. sê feliz para sempre, pelo menos na nossa lembrança… e vai, como assim ponderadamente ou não mas certamente de forma definitiva e irreversível, o escolheste. adeus…